Casamento, nascimento e morte

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Casamento, nascimento e morte

“… promete ama-lo e respeita-lo por toda sua vida?”, pergunta a juíza, do outro lado; enquanto, de cá, o atendente me pede a senha para retirada do atestado de óbito. Entre os documentos, entrego a certidão com a promessa que meus avós fizeram setenta e dois anos atrás. “E você… promete amá-la e respeitá-la…?”. Aproveito para renovar os meus votos. Sinto-me um garoto ao pensar que estou apenas há dez anos casado. Numa síntese rápida, repasso momentos que já valem a eternidade. Começo a imaginar os próximos sessenta, mas aterrisso de volta quando me pedem sua identidade. Na foto que entrego, ele já era avô; título que honrou com méritos, sorvetes e sabedoria. Lembro que, em meio a todos os agrados que nos fazia, e a todas histórias que nos contava, sempre ressaltou que a vida não é só essa face material. Suas inquietudes tiveram eco em mim e me levaram a entender que nosso sangue corre no mesmo rio hereditário.

Assino o recibo, satisfeito em pensar que está certo nascimento e óbito estarem do mesmo lado. Saio junto dos recém-casados. Documento em mãos. Atestado de vida renovada.

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