Caro aventureiro,

Tenho lhe dado abrigo em minha casa nesses últimos tempos. Extrai de você muitos aprendizados. Conheci realidades muito diferente das minhas. Me identifiquei com seu ímpeto de explorar, quebrar regras, conhecer, se aventurar. Gostei do seu ritmo. Leve. Zen. Eu estava mesmo precisando descarregar.

Percebi, porém, que você começava a me dominar. Começou a ocupar espaços que não eram para ocupar. Começou a sugerir que coisas a que dou valor não eram assim das mais importantes. Já estava me atrapalhando no que preciso realizar. Apesar de te admirar, não consigo nem quero te acompanhar.

Com você corri o risco de cair na ingratidão. E isso não posso tolerar.

Tenho coisas importantes a tocar. Tenho um plano a continuar. Sei que, como você, há muitas coisas interessantes em que eu poderia muito bem me aconchegar. Mas não estou aqui para isso. Há algo dentro de mim que me incita a continuar. Conhecer você é um sinal de avanço. Mas seria um erro eu me desviar.

Sei que você ficará por perto. E por longe também. Você está em tanto lugar! Estou sempre ouvindo suas histórias. Quem sabe um dia escrevemos juntos algo mais. Será um prazer te encontrar e passear. Mas prefiro eu ir te visitar. É mais seguro para mim. E também não tomo seu tempo, já que não é para você ficar.

Captei sua essência. Levo comigo sua coragem. Agora lhe peço licença. Você é deste mundo, o qual, não me entenda mal, gosto demais. Mas, por mais que você é que pareça, o passageiro sou eu. Não vim para ficar. Estou aqui me preparando, aprendendo, para enfim poder ir. Ou seria, talvez, regressar?

Foi um prazer conhecê-lo. Quem sabe um dia eu volto para lhe buscar.

Ah, se cabe um conselho, sei que você precisa de mentes para se abrigar, mas não as corrompa. Deixa-as ir. Fique apenas de aluguel. Afinal, você é um aventureiro. Sempre haverá novas mentes para se hospedar. Ou será que faz parte de sua boa docência dificultar? Bom, deixo meu conselho. Que fique a pensar.