Casa de praia
29/03/2020 2023-03-07 15:03Casa de praia

Casa de praia
Estávamos passando um feriado numa casa de praia, daquelas pé na areia, acompanhados de algumas famílias de amiguinhos da escola. As crianças brincaram o dia inteiro. Chegada a noite, ligamos um vídeo bem bodega para elas ficarem sossegadas enquanto adiantávamos a janta. Pizza na lenha, à beira do mar!
Aproveitando o climinha de lual e o raro momento de trégua, um dos pais puxou um violão, e começamos uma improvável roda musical. Outro pai correu e pôs umas cervejas para gelar. Três, quatro músicas, e nenhuma criança por perto. Abrimos o freezer umas quatro vezes, mas era verão, e o freezer era daqueles de casa de praia.
Mais umas tantas músicas, a empolgação crescendo, até que, atraídas pelo cheiro da pizza, as crianças foram surgindo em bandos cada vez maiores. Estavam esfomeadas, coitadas.
O jantar foi um sucesso. As crianças adoraram. Os adultos que conseguiram comer algum pedaço também gostaram. E o melhor era que àquela altura as cervejas já deviam estar geladas. Na verdade, haviam passado um pouquinho do ponto. Teríamos que esperar descongelar. Como era verão, ia ser rápido.
Calculamos que seria o tempo suficiente de pôr as crianças na cama. Não é difícil fazê-las dormir depois de um dia de praia. O problema foi quando um pai menos experiente anunciou que era a hora do soninho. Erro crasso. Em questão de segundos elas processaram o glúten que haviam acabado de devorar e ligaram o on em estágio avançado.
Não demorou tanto até que conseguíssemos dispersá-las e levá-las cada qual a seu quarto, cada família aplicando o método pedagógico da geração passada que melhor coubesse ao caso. O difícil e demorado foi descer de volta pra área social. Depois de umas cervejas mornas e um dia de praia, não é qualquer um que consegue bater na cama e voltar. No meu caso, a fome estava maior do que o sono; em dado momento, que deviam ser umas dez ou onze horas da madrugada, acordei com o próprio ronco e desci, não mais em busca da cerveja descongelada, mas de algum resto de jantar.
Para minha surpresa, havia um casal de sobreviventes. Estavam sentadinhos no sofá em frente ao freezer esperando a cerveja recongelar. Saldei-os pela vitória e fui na cozinha em busca de comida. Nunca tinha visto tanto alface numa geladeira só. Alguém, na certa, havia errado na quantidade na hora de fazer sua parte das compras; já outros deviam ter errado para baixo, porque faltava tudo mais. Por sorte, havia um resto de pizza esquecida na mesa. Duvido que a lenha tenha feito um trabalho tão extraordinário quanto o do micro-ondas. Estava deliciosa!
De volta à sala, brindamos finalmente a cerveja, não tão gelada. Conversamos uns quinze minutos sobre crianças e sobre como elas tornam nossa vida mais agradável. Extenuados, decidimos subir para dormir, afinal elas estavam descansando, e o dia seguinte prometia mais.